A jornalista e fotógrafa Graci Sá estreia no Portal Ilhéus com um texto muito cativante sobre o primeiro anos da Ponte Jorge Amado, antes e depois de sua construção tão aguardada por todos os ilheenses
Por: Graci Sá
Em 2016, enquanto fazia um show de humor em Ilhéus, o humorista que ainda despontava como o fenômeno que é, Windersson Nunes pegou o gancho de uma pergunta que todos se faziam em Ilhéus para fazer uma piada. A pergunta que ecoou e virou até adesivo em carros era: cadê a ponte Ilhéus pontal?”. Naquela época, a tal ponte ainda era só um sonho de quem passava horas no engarrafamento pra se deslocar do centro até a zona sul da cidade e vice-versa.
Foram muitos anos assim, e os verões sempre foram mais marcantes, pois nesse período a população da cidade se multiplicava em enésima potência e a velha ponte, inaugurada pelo próprio governador que dá nome a ela, Lomanto Junior, não suportava o fluxo e sucumbia há longas filas de carros que tentavam atravessar a Baía do Pontal. Estima-se que pelo pequeno e único acesso, passavam cerca de 9 mil automóveis por dia.
Mas se não foi fácil para a já senhora, ponte Lomanto Junior, também não seria para a mais nova e moderna, Jorge Amado. Segundo os ditos populares, desde o tempo do Imperador D. Pedro II já existia a promessa de uma ponte pra ligar a cidade de Ilhéus, e foi promessa reafirmada pelo então candidato à Presidência da República Getúlio Vargas, mas que também não cumpriu. Para não perder o trocadilho, o concreto em forma de ponte só foi se tornar uma obra concreta, em 1966.
O tempo passou, as pessoas compraram carros e a velha travessia já não suportava o gargalo frenético da pequena metrópole que Ilhéus se transformou. Foram 20 anos que a população ficou perguntando: “cadê a ponte Ilhéus pontal?” até que, de acordo com o gerente da OAS, a obra começou no final de 2016. Só o fato de ter começado já era uma grande novidade. Os ilheenses faziam muitos planos imaginando a tal ponte pronta. Mas novamente com o perdão do trocadilho, muita água passou por debaixo dessa ponte até a conclusão da obra.
Até que no aniversário da cidade do ano passado, ela ficou pronta. Mas tinha um grande problema que ninguém jamais imaginara: Uma pandemia. E em junho de 2020 muita gente ainda estava de fato em quarentena, no entanto, uma enorme quantidade de pessoas não resistiram e foram dar um passeio pela ponte que foi liberada na data para pedestres. Viramos notícia em jornal grande nesse dia.
No dia 01 de Julho de 2020, véspera da independência da Bahia estava marcada a inauguração de fato e de direito. E lá estava ela, linda e pronta com seus 46 estais fixados ao mastro de mais de 90 m de altura. O governador já era outro, o prefeito também. Mas a ponte, essa trazia a mesma expectativa de quando foi prometida.
A inauguração foi sem muita pompa, sem muita festa, sem muita gente. Eu estava lá por acaso, saí para caminhar com minha mãe e de repente vimos a estrutura montada para o que seria a coletiva de imprensa das autoridades. Por conta da pandemia, o público não havia sido convidado.
Vimos também uma senhora conversando emocionada enquanto fazia uma chamada de vídeo com alguém. Ela dizia: “Eu era uma menina quando a outra ponte inaugurou. Teve banda e champagne, e todos estavam dançando e suando na pista. Foi um dia de muita festa, parecia carnaval. Eu era pequena, mas eu lembro, e hoje estou aqui, 54 anos depois vendo a inauguração dessa outra ponte”.
Achei aquilo simbólico, tanto quando o Governador na ocasião, ignorar o povo que teimou em aglomerar. Ele respeitou as medidas de segurança e de distanciamento, e deixou o local rapidamente.
Naquela data, o número total de casos na Bahia chegava a 82.314 e o de mortes a 2.001. O número de mortes, que no dia 11 de junho chegou a 1.013, quase dobrou em menos de um mês.
Um ano se passou. Foram tantas as travessias que a ponte Jorge Amado proporcionou que seria impossível contar. As águas da Baía do Pontal já se acostumaram a ornar com a beleza da ponte iluminada com suas cores sincronizadas e sempre oferecem bons enquadramentos para quem atravessa de um lado a outro. Em dias de lua cheia, dizem que a paisagem parece saída de um filme adaptado de Jorge, o Amado.