Em mais um texto de opinião publicado no Jornal Portal Ilhéus, a professora Alessandra Simões traz mais uma vez boas reflexões sobre o atual cenário político brasileiro
Por Alessandra Simões:
Dramático não é mesmo? Mas as palavras deste título – juntas – não chegam nem aos pés do tamanho do sofrimento impetrado pelo atual desgoverno federal em seus mil dias no poder. Economia em frangalhos, inflação nas alturas, desemprego generalizado, fome, amazônia e pantanal em chamas, violência urbana e rural e muita corrupção. Tudo isso embalado por atentados constantes à democracia, à imprensa e às universidades, além de discursos negacionistas, misóginos, racistas e LGBTfóbicos. Mil dias para assegurar que o Brasil será cada vez mais um país para poucos. A pandemia, para além do fato de ter virado desculpa esfarrapada à qual o governo ainda se agarra para justificar seu fracasso, foi a grande marca do reino de mil dias dedicado à morte do povo brasileiro, garantida pelo uso de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a Covid-19, deboche contra as milhares de mortes e sofrimento das famílias e órfãos, atrasos na compra de vacinas, gestão ineficaz por conta das sequenciais trocas de ministros da saúde em tempos recordes e – pasmemos! – em função de inúmeras suspeitas de corrupção relacionadas à compra de vacinas.
Além de estar entre os países campeões em número de óbitos relacionados à Covid-19, o Brasil virou motivo de chacota internacional. Dez entre dez governantes mundiais estão chocados com a incapacidade e a maldade que mina por entre os corredores do palácio do planalto. Puxa, quer dizer, então, que não há um único motivo para comemorar os mil dias? Calma lá! Há um motivo sim: temos que comemorar o fato de que agora já se passou metade do tempo de mandato. Enfim, vislumbraremos que não há mal que dure para sempre. E podemos começar a contagem regressiva para que nas próximas eleições, nem este energúmeno, nem nada que se assemelhe a ele, volte ao poder. Estamos cada vez mais próximos do fim da era da necropolítica. E, ao que tudo indica nas pesquisas, reeleição é cada vez mais improvável.
Para comemorar, então, vamos relembrar algumas das frases funestas que o atual presidente proferiu ao longo destes mil dias de martírio, tormenta e dor para o povo brasileiro (as frases aqui foram retiradas dos portais de veículos de comunicação de grande circulação no país).
Ele disse que:
“Nada não está tão ruim que não possa piorar”, em setembro de 2021, sobre o estado caótico no Brasil, na cerimônia dos mil dias no Palácio do Planalto.
“A Covid apenas encurtou a vida das pessoas”, em entrevista dada no início de setembro de 2021 a um canal extrema-direita alemã.
“Não há casos de corrupção no país”, na abertura da 76ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em setembro de 2021
“Para 90% da população, isso vai ser uma gripezinha ou nada”, quando a pandemia ainda somava menos de 100 mortos no Brasil
“Parece que está começando a ir embora essa questão do vírus”, quando a pandemia contava com 1,2 mil mortos no Brasil
“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, em referência a seu sobrenome, quando havia quase 5 mil mortos
“Tem que deixar de ser um país de maricas”, ao criticar as medidas de isolamento e o medo das pessoas de se contaminarem com covid, em 2020
“Brasil está quebrado e eu não consigo fazer nada”, para um grupo de apoiadores em frente ao palácio do planalto em janeiro deste ano
“Sou imorrível, imbroxável e incomível”, a apoiadores na saída do palácio do planalto em 2021
“Nossa equipe econômica nos colocará no ranking dos 50 melhores países para se fazer negócio”, em Davos, na Suíça, durante o Fórum Econômico Mundial, em 2019
“O erro da ditadura foi torturar e não matar”, no programa Pânico, da Rádio Jovem Pan, em julho de 2016 (esta é anterior ao seu mandado, mas está aqui apenas para que refresquemos a memória sobre o perfil sinistro de um tal futuro presidente do Brasil).
Alessandra Simões, residente em ilhéus, é jornalista, artista plástica, crítica de Arte e professora da UFSB.